03 agosto 2009

Luto

Embora seja o acontecimento mais inevitável da vida, poucas pessoas conseguem encarar a morte com naturalidade. Na última terça feira, depois de muito tempo de sofrimento com o mal de Alzheimer, meu sogro Joaquim morreu. Não foi essa a causa da sua morte, e sim um enfisema pulmonar adquirido ao longo de muito tempo de escravidão ao vício do fumo, doença terrível que aprisiona milhões de pessoas pelo mundo afora, inclusive este que vos escreve. Coincidentemente, foi a mesma causa da morte do meu pai, há alguns anos.
"Seu" Joaquim foi uma pessoa de temperamento e personalidade fortes. Não gostava de ser contrariado, e normalmente não era, mas, ao mesmo tempo, tinha um carisma que atraía quem com ele convivia. Tivemos uma convivência de quase 25 anos, e posso dizer com certeza que, mais que sogro, ele foi meu amigo. Nos seus bons tempos de lucidez, conversamos as vezes horas a fio. Falávamos sobre quase todos os assuntos, e descobríamos algumas vezes, opiniões semelhantes.
Joaquim dedicou sua vida a família. E que família! Nove filhos! Podemos medir o sucesso dele na educação dos filhos, pelo fato de todos eles, hoje, serem vencedores. Alguns um pouco mais ou menos, mas todos vencedores. A esposa, "dona" Laura, é um capítulo a parte. Aliás, um capítulo é pouco, Laura é um livro a parte. Tenho medo de escrever sobre ela e não ter capacidade de expressar com fidelidade, toda a admiração que sinto, então não vou me atrever agora. Fico devendo, algum dia, tentar escrever exclusivamente sobre "dona" Laura.
Na verdade, a intenção deste "post" é homenagear, além do Joaquim, outra pessoa que foi fundamental na sobrevida de mais de 10 anos de convivência com o Alzheimer. Embora todos os filhos, em maior ou menor grau, tenham se dedicado ao pai nesses anos de doença, um deles superou todas as expectativas. A Beatriz foi a cuidadora do pai. Que dedicação. Beatriz dedicou todo o seu tempo a cuidar do pai, e nós ficávamos bem mais tranquilos quando ela estava em casa, pois qualquer problema que surgisse, ela com certeza resolveria. Eu a Beatriz temos muito poucos pontos de vista em comum, mas sempre tivemos uma relação baseada no respeito mútuo. Embora discordando dela em quase tudo, tenho que reconhecer que ela tornou mais leve a dor para todos nós.
Quando uma morte assim acontece, não temos cenas de filhos e esposa desesperados, pois isso é típico da surpresa, e não houve surpresa nessa partida. Quando uma morte assim acontece, as lágrimas que derramamos são tranquilas, são lágrimas de saudade, que caem sem barulho.
Um capítulo importante da história dessa família se encerra agora. Joaquim terminou o seu ciclo de vida e deixou como exemplo para todos nós, a força de lutar, a coragem de encarar, a determinação de conseguir os objetivos, e finalmente o sucesso de uma vida.

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